quinta-feira, 31 de março de 2011

ABRAÇARTE






Abraço compõe poesia. Escreve estonteantes romances. Verdadeira crônica de um amor quase indescritivel. Nele se resumem as inúmeras obras de valor inestimáveis. Percorre o deslumbramento da mais bela visão para as retinas. Recolhe em si a ternura, a compreensão e o amor, traço indelével de sua presença. Há nele uma força incontrolável de confiança no outro; de recíprocidade. Abraço é nota musical. Acorde de uma violão. Voz lírica. Sinfonia. Som da natureza. Saudacão matutina dos pássaros. Abraço é arte!

Abraço pacifica a guerra de um coração. Transforma desolação de trincheiras em bandeira vitoriosa de lágrimas sinceras. Não precisa de armas. Gritos ou discursos. Abraço é paz! Abraço se faz sem rascunhos silábicos. Sem cantos ou melodia dos lábios. Não contém as lágrimas! O coração pulsa alegre a companhia de outro ser. Cumpre o que carrega sua essência. Como criança ao colo de sua mãe, totalmente segura, assim está o coração que sofre as dores de uma distância. Um coração que mesmo cercado de alegria, é profunda tristeza. Sim, deixa-se todo inteiro confiar no abraço. Expressar a intimidade de sua dor; de sua luta na alma, marcada com uma cor borrada de solidão! Emaranha-se todo nas mãos que afagavam as costas. Desnuda-se o espirito num gesto que revela Deus, todo misericórdia! A abraço pacifica a guerra de um coraão.

Abraço confirma a história de uma força. Passos ousados de uma existência! Presença inefável do Criador. Abraço é beijo de Deus. Carinho sempre pronto. Coragem sempre alegre nas tribulações. Confiança na simplicidade dos gestos. Acolhida em tempos de abundância e de  escassez. Misericórdia que se esconde nos olhares que percorrem as diferenças do dedo mindinho ao polegar. Abraço confirma a história de uma força!

O olhar é permissão para uma expediçao ao interior. O outro se permite acolher o convite para navegar entre os braços feito leme! Abraço é encontro com a profundidade. Braços abertos, coracão oblativo. Abraço é habitacão segura a vida questionada pela solidão! O tempo e o espaço reverenciam a impresionante vivência de um gesto esquecido. Abraço torna-se linguagem. Esta, por sua vez, revela o Criador, o Senhor, que estendendo as mãos, num abraço gera a humanidade. E a humanidade, num menino, sente plenamente o aconchego, abraço de Deus!

terça-feira, 29 de março de 2011

O NOME DA FOLHA



Caía despreocupada, levada pelo vento, com o talo tranquilo, porque as asas seguiam o instinto do ar e almejavam alcançar o aroma da terra. As demais folhas que permaneceram junto dos galhos a saudavam com nostalgia. Nasceu no alvorecer. Viveu nos galhos intermediários da árvore, mas sempre teve um olhar que alcançava o horizonte, bem mais que as que se encontravam nos galhos mais altos. Porém, ninguém tinha ciúmes de sua posiçao, porque nunca guardou para si a beleza dos céus. 

No dia da despedida, as folhas bailaram uma coreografia diferente do usual; remexiam-se para cima e para baixo e logo mudavam de ângulo, para um lado e para o outro, harmoniosas; dessa vez, o vento subiu pelo tronco e as abraçou inesperadamente pelo talo de suas asas. Havia tempo em que não se surpreendiam com a Natureza. Lá embaixo, algumas folhas maduras, faziam pequenos movimentos, visitadas por uma brisa que passava fora de hora; as formigas, de longe, observavam, maravilhadas, o espetáculo de uma folha que caía.

Ao longo do caminho, a folha pensava na extasiante beleza de ter vivido na árvore por muito tempo; recordava as lindas coreografias que o vento lhe ensinou; iria ter saudades da brisa com seu beijo terno e gracioso deslizando os contornos de seu ser; ajudava a revigorar a clorofila de suas asas. A folha nem imagina que lá no chão também a brisa passeava. Iria ter saudades do céu, privilégio das folhas que vivem nos galhos mais altos e ela, que vivia no meio,  sempre compartilhava com as debaixo.

A folha caía levada pelo vento do entardecer. Se nasceu junto ao sol nascente, era natural partir ao sol poente. Ainda foi possível, vislumbrar pela última vez, os raios do sol que se despediram com um aceno vermelho no horizonte. Ela amava o amanhecer e sempre ansiava que chegasse logo o entardecer, pelo encanto desses dois astros que poucas vezes estiveram juntos, desde que se entende por folha.

A folha deslizou leve pela grama macia, que como tapete, embelezava o chão. Ali contemplou o céu com novo olhar; meditou a vida sob outro ângulo e agora, seu existir era um enigma que lhe  guardava surpresas; sentia o chão, porém, ainda não enxergava as estradas e suas nuances, pois seus olhos estavam fixos no céu, na saudade de seus amores, no amor das joaninhas, no abraço das flores, no seu espaço junto à árvore que iria cicatrizar e, como um baú, guardaria seus tesouros, os dias de sua existência ali vividos.

De manhã, bem cedo, foi acordada com o beijo de uma brisa e sua primeira visão de umas das estradas foi uma formiga, que sorridente, veio lhe convidar para um passeio; conheceu muitas estradas até a chegada ao formigueiro; ali, alimentou por uns dias, muitas outras formigas. A folha, que caiu, despreocupada, levada pelo vento, mudou seus hábitos, conheceu novas realidades e foi consumida; entretanto, em toda sua pequena existência, nunca mudou seu nome, sua essência. A folha se chamava Paz.  Entre as folhas que caem e as que brotam, não há uma só que não se recorde de Paz.


DEUS, COMO ÉS? - I capitulo Asas de Deus

I Capítulo


             - Deus, quem és? Mostra-te sem os enganos, sem as máscaras, políticas eclesiásticas, doutrinas, dogmas, alienações da sociedade, enfim, sem a fé incrustada por corações egoístas na alma de milhões de fiéis. Qual é tua face, Senhor? 
O grito de súplica ecoava de um pequeno quarto no fundo de uma casa de classe média. O jovem, ajoelhado, rezava à lua que nada lhe dizia, mas era companhia. A janela entreaberta escondia a intimidade de seu inquilino, mantinha suas reservas. O olhar do jovem era de cansaço espiritual e desilusão mediante uma fé milenar em que o rosto de Deus ia se desfigurando paulatinamente. O grito de súplica vinha de um pequeno coração que ansiava conhecer o rosto verdadeiro do seu Criador. Se for arrogância desejar ver a Deus tal e qual, como uma espécie de desvendar seu Mistério, então que esse mesmo Deus tivesse misericórdia dele, confessava-se.
Jovem de classe média e muito religioso, Homero gostava de ouvir música, passear em praças, além de ter como hobby, escrever e ler gibis. Nunca faltavam revistas em sua mochila. Em plena aula na faculdade foi advertido certa vez, pois sorriu de uma história de Chico Bento que estava lendo. O professor discutia questões de tecidos linfáticos. O professor, ferido em sua atividade educadora, intimou Homero a ir a frente da turma para explicitar a parte que se tergiversava no momento do riso. Homero elucidou o tema proposto com desenvoltura e arrancou aplausos da turma. Cursava Medicina. Boa parte dos professores o admiravam por sua inteligência. Se na classe demonstrava dispersão, no silêncio de seu quarto, a concentração o tomava por completo. Lúcia, sua namorada, é que odiava seu amor pelos estudos, pois sempre ficava em segunda opção. No período de exames, Homero dizia que não podia sair com ela, pois tinha que fazer amor com os linfócitos. Sua segunda paixão era a fé. Amava as discussões teológicas Razão e Fé, Fé e Ciência. Tinha outra paixão especial, o café. E por fim, amava Lúcia perdidamente.
Na noite seguinte à súplica que lançou ao céu, desconfiado da janela entreaberta e desesperançoso de que fosse interesse de Deus mostrar-se, fechou a janela sem despedir-se da lua. Telefonou para Lúcia, marcando um encontro na praça do Corcovado. Às seis da tarde já estava lá à espera de sua amada. Lúcia, seu grande amor, chegou logo depois. Pairava na praça um clima diferente do usual. Seres divinos que não podiam ser vistos estavam por toda a parte e alguns se posicionavam de modo particular junto aos dois jovens enamorados. A lua enfeitava belamente o céu. Porém, uma tragédia aguardava o casal. Às sete horas da noite, no instante em que Lúcia declarava seu amor a Homero, assim que este a havia pedido em noivado, um adolescente aproximou-se dos dois e puxou um revólver anunciando o assalto. Homero disse que ele não fizesse nada e que poderia levar os pertences. Lúcia estava tremendo, devido aos nervos abalados. O rapaz estava retirando os pertences dos dois, quando outro adolescente gritou dizendo que aquela área pertencia a ele. – ô moleque, vaza -  Assim se referiu.  O outro saiu correndo e houve disparos. Um deles acertou Lúcia que caiu em prantos. E outro tiro derrubou o adolescente que havia perpetrado o assalto. A ambulância foi chamada. Homero tentava manter Lúcia acordada. Na ambulância, o ódio contra o adolescente ao lado, pois os dois foram socorridos ao mesmo tempo, era enorme e quase insano. Tinha vontade de matá-lo ali mesmo antes que recebesse o devido socorro no hospital. Porém, seus pensamentos foram surpreendidos pela intervenção do adolescente agonizante.
- Aii...- falava com dificuldades - sei que você está com vontade de me matar aqui, mas não vai ser preciso. Um anjo me grita do céu. Tem pressa em me receber...- e encarando Homero - perdão, irmão, por sua namorada. Se ela morrer, vou pedir ao anjo que a leve também para o céu e...
- Cale-se, seu marginal, você não tem o direito de se dirigir à minha pessoa, nem tocar no nome de minha namorada. Você é imbecil, egoísta, que merece morrer mesmo. - Enquanto isso, virou-se para Lúcia que agonizava. Ela foi atingida nas costelas e perdia muito sangue. Sua respiração ficava cada vez mais sôfrega.
- Homero, não me deixe morrer! Não quero morrer! Quero viver....Homero aperte minha mão! - gemia Lúcia. Homero deixou cair lágrimas de desespero pelo medo de perder Lúcia. Abraçou-a com força contra seu peito.
- Eu não vou deixar você morrer, meu amor, estou aqui viu?!!
O menino deu novo dirigiu-se a Homero.  
- Eu... não mereço! -  Mas o anjo insiste em me levar para o céu, lugar dos eleitos. Ele está aqui e olha com compaixão para você e vejo-o tocar no ferimento de sua namorada.
- Você está com alucinações! Deixe de idiotices, marginal! - gritou Homero.
- Tchau, irmão! Perdão! Deus se mostrará pleno a você...é a promessa do anjo que me põem nos braços.
Imediatamente, o adolescente parou de respirar e Lúcia recobrava a pulsação normal do coração. Homero permaneceu alguns instantes pensando nas últimas palavras do garoto: “ Deus se mostrará pleno a você...”. Não queria acreditar que tivesse relação com sua súplica.


aguarde o próximo capitulo...

segunda-feira, 28 de março de 2011

CADEIRA DE BALANÇO




Estava sentado em sua cadeira de balanço que ia e vinha no ritmo de seus pensamentos. A falta de lubrificacão produzia um ruído no movimento da mesma. Ia e vinha. Era uma cadeira grande, espaçosa. Ia e vinha. Morava ali desde o término da habitação. Porém, já habitava desde sempre os sonhos do morador. O alpendre da casa onde habitava era rodeado por plantas. A disposição da cadeira tinha vista direta e privilegiada para o mar. Uns 200 metros. As ideias nadavam nas ondas que  batiam nas rochas. Tudo era tranquilo, a não ser o ruído das juntas da cadeira. Ia e vinha compassada. Os olhares permaneciam longes, lá onde, para o imaginário medieval,  caíam as águas do mar; onde se pensa um abismo em que elas se suicidam. Na verdade, seus olhos eram remos que conduziam a aventura de seus pensamentos pastoreando o mar.

O silêncio parecia ser companhia. A cadeira ia e vinha. O barulho parecia ser companhia. O ruído aparentava ser, de ambos, o desequilibrio. Vez ou outra desdrobrava os pés, mudando de posição. O que estava por cima se colocava agora por baixo. E assim seguia o ritmo daquela tarde de pouco vento. Aquela região de pouca gente. De silêncio e de barulho. Coqueiros bailarinos. O vento tinha elegido ali sua morada. Dali partia para todos os demais cantos do mundo e fazendo eco nas profundezas do universo. Do horizonte, donde se esquecem os amores, rumores, - para outros ali se começa a recordar, viver - os pensamentos acenavam. Os remos continuavam firmes, de prontidão. A viagem prosseguia. Pequenos grãos de areia se acumulavam em seu rosto, marcado pelos muitos anos vividos e pelo movimento que ia e vinha, da cadeira de balanço.

Uma jangada parecia perdida em alto-mar. Os remos se detiveram. Os pensamentos contemplaram-na com curiosidade e cuidado! Que fazia em seu caminho? Porque também não afundara com seu viajante? De um lado para o outro, movimentva-se, tranquila, compassada na fusão das águas com o vento, tal qual a cadeira de balanço. A jangada o inquietara! Os remos pararam, sem forças para continuar. Os pensamentos, seguiam as pequenas ondas, já bem distante da margem. O balanço. Ia e vinha! O silêncio. A cadeira. O barulho. O ruído. Uma jangada perdida em alto-mar!
 
Suas mãos dispostas sobre os braços da cadeira, seguiam o ritmo, firmemente agarradas em suas seguranças. De repente, sem que quisessem abandonar seu posto, uniram-se. Calos que se debatiam de ambos os lados para que se tornassem harmonia uma na outra. Sempre num mesmo corpo, há tempos não caminhavam juntas! Os cotovelos tomaram seu posto na cadeira. Eles e suas dores! As mãos pareciam se perdoarem, mutuamente, o tempo distante. Os dedos apertavam-se bruscamente! Havia uma dor que os molestava, consumia. O coração, sem cor, sem sangue, inerte no tempo, no abraço das mãos! O ruido aumentara. Seus pés descruzaram-se inquietos por uns calos que se rebelaram. A cadeira ia e vinha no ritmo da chaga aberta. Aos poucos, os remos foram diminuindo sua força. Lentamente avancavam os pensamentos. Os pés se cruzaram novamente. O ruído diminuiu. O silêncio…As mãos!

Seu corpo frágil queria navegar. Ansiava estar lá bem longe, onde naufragavam os remos pouco a pouco. A cadeira ia e vinha. O ruído permanecia. A areia em seu rosto havia coberto as rugas existenciais. Os pensamentos permaneciam sós sem os remos. A cadeira diminuía lentamente seu movimento. Lentamente! O ruído aumentava quase à mesma proporçao. O silêncio e o barulho mantinham seu mesmo estado. Eram companhia. As mãos mantinham-se agarradas. Numa paz! Num estado de espirito que prenuncia o encontro com o transcendente, o Infinito! Os pés, ponteiros, horas e minutos que se encontram ao badalar da meia noite, marcavam a passagem. Seu corpo frágil queria navegar!

Estava sentado em sua cadeira de balanço que ia e vinha! O silêncio era companhia. Aquietara-se o movimento. O ruido sumira. O barulho era companhia. O sol cumpria seu ciclo e deixava cair suas últimas gotas onde se precipitam as águas do mar. Os lemes naufragaram. Antes que se fossem, avistaram as mãos bem juntas, harmoniosas, perdoadas. Os pés um por sobre o outro, sem hierarquia. Os pensamentos se apegaram à jangada perdida em alto-mar por um navegante com a face coberta de areia em sua cadeira de balanço!


domingo, 27 de março de 2011

Acompanhe essa aventura... logo postarei o primeiro capítulo!


ASAS DE DEUS


desenho de Thiago




 
 A saga de um jovem e o Arcanjo Miguel


Quando a súplica....
.....se torna um caminho a perscrutar

ASAS DE DEUS


ASAS DE DEUS

INTRODUÇÃO


Falar de anjos na tradição popular é falar de seres que nos protegem ao longo de toda nossa existência desde o nascer até o morrer. Acredita-se que cada um de nós tem um anjo protetor. A palavra Anjo vem do grego ângelus e significa emissário, mensageiro de Deus ( Hb 1, 13-14). Alguns teólogos dizem que anjos é apenas uma ideia, ação de Deus; não é um ser. Outros, por sua vez, creem que realmente cada ser nasce com seu anjo e que um depende do outro para existir, em suma, um ser humano não é pleno sem seu anjo.

Anjos são presenças de Deus. Estão em toda parte da Criação divina. No céu, glorificam sem cessar o Criador de todas as coisas. São criados por Deus e na terra, guiam, protegem e curam os humanos que suplicam a intervenção de seu Criador e Senhor.  Quando Deus permite, eles se deixam ver e se revelam à criatura que suplica para melhor guia-lo à graça pedida.

O jovem Homero clama a Deus que se revele. Clamar, verbo de origem latina, clamare, quer dizer proferir em voz alta, gritar, implorar, pedir com insistência, mas também de cansaço diante de uma situação que não se suporta mais viver.

Homero quer ver Deus, face a face, sem os tratados teológicos ou culturais. Quer estar frente a frente com seu Criador. Um anjo da presença de Deus, um Arcanjo, Miguel, o guerreiro de Deus, é enviado para preparar o coração do jovem para este encontro. Tarefa nada fácil para o anjo que vai ajudar o jovem a compreender o sentido de sua própria existência.

A trama acontece no dia-a-dia de sua vida, onde Homero vai aprendendo com a ajuda do anjo a conviver com dimensões que lhe amedrontam como a morte, a solidão e a angústia. Aí Deus vai se revelando aos poucos, dentro de uma pedagogia própria que nos convida ao deserto para nos falar ao coração.

Mortes, angústias, misérias e injustiças. Nesse emaranhado de acontecimentos que fazem parte do caminhar da natureza humana, o jovem tem dificuldade em entender esse Deus que vai desvelando a sua Face entrelaçada à sua história. Homero ainda vive sob o jugo de uma imagem de Deus caricaturada. Mas o Criador não se desanima com sua criatura desiludida; deseja profundamente dar-se a conhecer conforme o anseio do jovem. Por isso, o Arcanjo Miguel, que goza da graça de viver face a face com Deus, é escolhido para não deixar que ele se perca na busca de sua Face.

Asas de Deus, um livro onde a morte é necessária e a vida imprescindível para que Deus se revele. Para aqueles que se aventuram nestas páginas, sintam-se guiados por um anjo de Deus e que encontrem o que buscam suas almas sedentas do Totalmente Outro, o Amado de nossas Almas, Deus.  

Oliveira Sousa

sábado, 26 de março de 2011

SEDE DE SI


Ser humano tem sede
Ele está sedento de si
Sob o sol e lua se busca
Perscruta pedaços de si

Na folha que cai suave
Na flor que desabrocha
Onde pouse o seu olhar
Repousa pedaços de si

Suas esperanças e sonhos
As dores e suas angústias
Ali também se escondem
É a corporeidade da alma

No âmago do coração
Pedaços se aglutinam
O Mistério se revela
O humano se encontra


quarta-feira, 23 de março de 2011

A VOZ DOS SEM VOZ

24 de março - Martírio de Dom Oscar Romero, 
mártir do povo de El Salvador



A Palavra tem sede de mártires
Vozes portadoras de Salvação
Voz que represente os sem voz
Dom Oscar Romero, buscamos!

A Palavra tem sede de profetas
Humanos revestidos de coragem
Lutar ao lado do povo sofredor

Buscamos, buscamos em Cristo...

A Palavra tem sede de mártires
Que sofram a dor dos que a sofrem
Denunciem a injustiça e os injustos

Dom Oscar Romero, buscamos!

A Palavra tem sede de profetas
Que rejeitem os grandes do mundo
Que escolham os pobres oprimidos

Buscamos, buscamos em Cristo...

A Palavra tem sede de mártires
Alimento para a fé do povo
Hóstias vivas de Jesus Cristo

Dom Oscar Romero, buscamos!

A Palavra tem sede de profetas
Que não compactuem com os ricos
Mas se aliem ao Deus dos Pobres

Buscamos, buscamos em Cristo...

A Palavra tem sede de Cristãos
Que não se vendam à instituição
Que sigam a Cristo, libertação

Dom Oscar Romero, buscamos!

Cristãos autênticos como vós,
Cristãos corajosos como vós,
Cristãos mártires como vós,

Buscamos, buscamos em Cristo...

Quem escolha a Cruz de Cristo
Quem acolha a cruz dos pobres
Sem medo da incompreensão

Buscamos, buscamos em Cristo...

segunda-feira, 21 de março de 2011

DENTRO DE MIM




Meus olhares te viram meu Senhor
Aqui dentro de mim cheiro jasmim
Arde o peito bem forte num clamor

Meus poros te sentiram lá profundo
Aqui dentro de mim no meu jardim
Nascem formosos brotos fecundos

Meu coração pulsa fúlgido tua força
Aqui dentro de mim como um clarim
Eu suspiro por água como uma corça

Meus pés te saboreiam nesse caminhar
Aqui dentro de mim horizonte sem fim
Em ti tenho uma bússola a me orientar

Meu corpo e minha alma sonham amor
Aqui dentro de mim louvam os serafins
Pois sei que só existo em ti meu Senhor

VOAR EM TI




Dedico às pessoas que veem na singeleza da Beija-Flor
 o encanto do Mistério, seu néctar, amor, Deus!


Beija-flor que pousas em minha alma
Mostra-me em plenitude a tua áurea
Com velocidade e agilidade conduza
Esses meus encantos por voar em ti

Bebe em meus poros abertos o néctar
Suga tudo que há de vital em meu ser
Deixa-me entrar nesses teus segredos
Permita-me ser beija-flor, voar assim

Anseio conhecer esses teus mistérios
Velejar na suavidade da brisa matutina
Sonhar com as profundidades das flores
Tocar com meu bico o ninho do Criador

Deixa, deixa beija-flor, deixa, por favor
Prometo guardar segredo de teus amores
Me comprometo a plantar muitos jardins
Se tu me permites uma só vez voar em ti

EU ME VI




Não estou exagerando ou tentando chamar a atenção
Bastou eu sair de casa após ter saudado o amanhecer
E me vê multifacetado em muitas situações e gestos
Eu não estava desejoso de aceitar essa fragmentação

Geralmente pensamos que nos vemos em nós mesmos
Ilusão que nos permitimos ser enganados no dia-a-dia
Para evitar a sobrecarga em nossa angústia existencial

Porém, hoje eu me vi no escapamento de um carro azul
No beija-flor que voava perdido em meio aos cimentos
Na folha seca que perambulava no vento com amnésia
Em um humano que tinha a mesma semelhança que eu

Voltei para o aconchego de um casulo que digo ser meu
Revisitei as imagens ainda penduradas nos fios da alma
Ali Deus Criador me falou, então eu me vi numa unidade

domingo, 20 de março de 2011

O MISTÉRIO NO OLHAR


Abre a porta, vem ver
Mata a saudade do ser
Olha essa exuberância
Rompendo a distância

Abre a janela, vem olhar
Sente o sabor de se amar
Vê, a alma se despedaça
Lá no horizonte sol raiar

Corre, venha, não se detenha
Não deixe que nada a contenha
Permita que ele todo te tenha
Em teu corpo a alma desenha

Abre os poros, expõe o sentir
A saudade nasça nessa ânsia
De não se render à fragrância
Das orquídeas em abundância

A beleza tem sua essência
As cores tem sua fluência
Cada qual em sua cadência
Aglomeradas numa ciência

Porém, teu olhar tem poder
Adornar a essência que vês
De outras cores tecer, obter
Essa ciência tu podes reger
  
Mas tens que cuidar do olhar
O profundo, mistério, sonhar
Atar-se ao amor, nele se guiar
Simplicidade deixar-se cativar

quinta-feira, 17 de março de 2011

CONCENTRA-TE NO CORAÇÃO




Concentra-te no pulsar do coração
Busca se há motivos para emoção
Anda, depressa, inquiri-o, destarte,
Onde repousa bem vivaz sua arte?

Estará firme em pincéis bem livres,
Segue rastros apagados e confusos,
Será que pinta o busto da Aquarela,
Seu pulsar será multidão de cores?

Concentra-te no som dessas batidas
Deixa ressoar nas entranhas da alma
Entra em êxtase pelas dissonâncias
Quem poderá ser tão excelso mestre?

Estará todo entregue à bela sinfonia,
Cada parte sua em cada nota diluída,
Consciente dos acidentes da música,
Ele é mesmo cúmplice do Regente?

Concentra-te nas batidas do coração
Para senti sua força transformadora
Que te traz à presença de ti mesmo
Não precisas de nenhuma partitura.

Concentra-te no pulsar do coração
O Regente desperta a consciência
Para a presença em nós do Eterno
Onde tem origem e repousa a Arte.