segunda-feira, 28 de março de 2011

CADEIRA DE BALANÇO




Estava sentado em sua cadeira de balanço que ia e vinha no ritmo de seus pensamentos. A falta de lubrificacão produzia um ruído no movimento da mesma. Ia e vinha. Era uma cadeira grande, espaçosa. Ia e vinha. Morava ali desde o término da habitação. Porém, já habitava desde sempre os sonhos do morador. O alpendre da casa onde habitava era rodeado por plantas. A disposição da cadeira tinha vista direta e privilegiada para o mar. Uns 200 metros. As ideias nadavam nas ondas que  batiam nas rochas. Tudo era tranquilo, a não ser o ruído das juntas da cadeira. Ia e vinha compassada. Os olhares permaneciam longes, lá onde, para o imaginário medieval,  caíam as águas do mar; onde se pensa um abismo em que elas se suicidam. Na verdade, seus olhos eram remos que conduziam a aventura de seus pensamentos pastoreando o mar.

O silêncio parecia ser companhia. A cadeira ia e vinha. O barulho parecia ser companhia. O ruído aparentava ser, de ambos, o desequilibrio. Vez ou outra desdrobrava os pés, mudando de posição. O que estava por cima se colocava agora por baixo. E assim seguia o ritmo daquela tarde de pouco vento. Aquela região de pouca gente. De silêncio e de barulho. Coqueiros bailarinos. O vento tinha elegido ali sua morada. Dali partia para todos os demais cantos do mundo e fazendo eco nas profundezas do universo. Do horizonte, donde se esquecem os amores, rumores, - para outros ali se começa a recordar, viver - os pensamentos acenavam. Os remos continuavam firmes, de prontidão. A viagem prosseguia. Pequenos grãos de areia se acumulavam em seu rosto, marcado pelos muitos anos vividos e pelo movimento que ia e vinha, da cadeira de balanço.

Uma jangada parecia perdida em alto-mar. Os remos se detiveram. Os pensamentos contemplaram-na com curiosidade e cuidado! Que fazia em seu caminho? Porque também não afundara com seu viajante? De um lado para o outro, movimentva-se, tranquila, compassada na fusão das águas com o vento, tal qual a cadeira de balanço. A jangada o inquietara! Os remos pararam, sem forças para continuar. Os pensamentos, seguiam as pequenas ondas, já bem distante da margem. O balanço. Ia e vinha! O silêncio. A cadeira. O barulho. O ruído. Uma jangada perdida em alto-mar!
 
Suas mãos dispostas sobre os braços da cadeira, seguiam o ritmo, firmemente agarradas em suas seguranças. De repente, sem que quisessem abandonar seu posto, uniram-se. Calos que se debatiam de ambos os lados para que se tornassem harmonia uma na outra. Sempre num mesmo corpo, há tempos não caminhavam juntas! Os cotovelos tomaram seu posto na cadeira. Eles e suas dores! As mãos pareciam se perdoarem, mutuamente, o tempo distante. Os dedos apertavam-se bruscamente! Havia uma dor que os molestava, consumia. O coração, sem cor, sem sangue, inerte no tempo, no abraço das mãos! O ruido aumentara. Seus pés descruzaram-se inquietos por uns calos que se rebelaram. A cadeira ia e vinha no ritmo da chaga aberta. Aos poucos, os remos foram diminuindo sua força. Lentamente avancavam os pensamentos. Os pés se cruzaram novamente. O ruído diminuiu. O silêncio…As mãos!

Seu corpo frágil queria navegar. Ansiava estar lá bem longe, onde naufragavam os remos pouco a pouco. A cadeira ia e vinha. O ruído permanecia. A areia em seu rosto havia coberto as rugas existenciais. Os pensamentos permaneciam sós sem os remos. A cadeira diminuía lentamente seu movimento. Lentamente! O ruído aumentava quase à mesma proporçao. O silêncio e o barulho mantinham seu mesmo estado. Eram companhia. As mãos mantinham-se agarradas. Numa paz! Num estado de espirito que prenuncia o encontro com o transcendente, o Infinito! Os pés, ponteiros, horas e minutos que se encontram ao badalar da meia noite, marcavam a passagem. Seu corpo frágil queria navegar!

Estava sentado em sua cadeira de balanço que ia e vinha! O silêncio era companhia. Aquietara-se o movimento. O ruido sumira. O barulho era companhia. O sol cumpria seu ciclo e deixava cair suas últimas gotas onde se precipitam as águas do mar. Os lemes naufragaram. Antes que se fossem, avistaram as mãos bem juntas, harmoniosas, perdoadas. Os pés um por sobre o outro, sem hierarquia. Os pensamentos se apegaram à jangada perdida em alto-mar por um navegante com a face coberta de areia em sua cadeira de balanço!


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