terça-feira, 29 de março de 2011

DEUS, COMO ÉS? - I capitulo Asas de Deus

I Capítulo


             - Deus, quem és? Mostra-te sem os enganos, sem as máscaras, políticas eclesiásticas, doutrinas, dogmas, alienações da sociedade, enfim, sem a fé incrustada por corações egoístas na alma de milhões de fiéis. Qual é tua face, Senhor? 
O grito de súplica ecoava de um pequeno quarto no fundo de uma casa de classe média. O jovem, ajoelhado, rezava à lua que nada lhe dizia, mas era companhia. A janela entreaberta escondia a intimidade de seu inquilino, mantinha suas reservas. O olhar do jovem era de cansaço espiritual e desilusão mediante uma fé milenar em que o rosto de Deus ia se desfigurando paulatinamente. O grito de súplica vinha de um pequeno coração que ansiava conhecer o rosto verdadeiro do seu Criador. Se for arrogância desejar ver a Deus tal e qual, como uma espécie de desvendar seu Mistério, então que esse mesmo Deus tivesse misericórdia dele, confessava-se.
Jovem de classe média e muito religioso, Homero gostava de ouvir música, passear em praças, além de ter como hobby, escrever e ler gibis. Nunca faltavam revistas em sua mochila. Em plena aula na faculdade foi advertido certa vez, pois sorriu de uma história de Chico Bento que estava lendo. O professor discutia questões de tecidos linfáticos. O professor, ferido em sua atividade educadora, intimou Homero a ir a frente da turma para explicitar a parte que se tergiversava no momento do riso. Homero elucidou o tema proposto com desenvoltura e arrancou aplausos da turma. Cursava Medicina. Boa parte dos professores o admiravam por sua inteligência. Se na classe demonstrava dispersão, no silêncio de seu quarto, a concentração o tomava por completo. Lúcia, sua namorada, é que odiava seu amor pelos estudos, pois sempre ficava em segunda opção. No período de exames, Homero dizia que não podia sair com ela, pois tinha que fazer amor com os linfócitos. Sua segunda paixão era a fé. Amava as discussões teológicas Razão e Fé, Fé e Ciência. Tinha outra paixão especial, o café. E por fim, amava Lúcia perdidamente.
Na noite seguinte à súplica que lançou ao céu, desconfiado da janela entreaberta e desesperançoso de que fosse interesse de Deus mostrar-se, fechou a janela sem despedir-se da lua. Telefonou para Lúcia, marcando um encontro na praça do Corcovado. Às seis da tarde já estava lá à espera de sua amada. Lúcia, seu grande amor, chegou logo depois. Pairava na praça um clima diferente do usual. Seres divinos que não podiam ser vistos estavam por toda a parte e alguns se posicionavam de modo particular junto aos dois jovens enamorados. A lua enfeitava belamente o céu. Porém, uma tragédia aguardava o casal. Às sete horas da noite, no instante em que Lúcia declarava seu amor a Homero, assim que este a havia pedido em noivado, um adolescente aproximou-se dos dois e puxou um revólver anunciando o assalto. Homero disse que ele não fizesse nada e que poderia levar os pertences. Lúcia estava tremendo, devido aos nervos abalados. O rapaz estava retirando os pertences dos dois, quando outro adolescente gritou dizendo que aquela área pertencia a ele. – ô moleque, vaza -  Assim se referiu.  O outro saiu correndo e houve disparos. Um deles acertou Lúcia que caiu em prantos. E outro tiro derrubou o adolescente que havia perpetrado o assalto. A ambulância foi chamada. Homero tentava manter Lúcia acordada. Na ambulância, o ódio contra o adolescente ao lado, pois os dois foram socorridos ao mesmo tempo, era enorme e quase insano. Tinha vontade de matá-lo ali mesmo antes que recebesse o devido socorro no hospital. Porém, seus pensamentos foram surpreendidos pela intervenção do adolescente agonizante.
- Aii...- falava com dificuldades - sei que você está com vontade de me matar aqui, mas não vai ser preciso. Um anjo me grita do céu. Tem pressa em me receber...- e encarando Homero - perdão, irmão, por sua namorada. Se ela morrer, vou pedir ao anjo que a leve também para o céu e...
- Cale-se, seu marginal, você não tem o direito de se dirigir à minha pessoa, nem tocar no nome de minha namorada. Você é imbecil, egoísta, que merece morrer mesmo. - Enquanto isso, virou-se para Lúcia que agonizava. Ela foi atingida nas costelas e perdia muito sangue. Sua respiração ficava cada vez mais sôfrega.
- Homero, não me deixe morrer! Não quero morrer! Quero viver....Homero aperte minha mão! - gemia Lúcia. Homero deixou cair lágrimas de desespero pelo medo de perder Lúcia. Abraçou-a com força contra seu peito.
- Eu não vou deixar você morrer, meu amor, estou aqui viu?!!
O menino deu novo dirigiu-se a Homero.  
- Eu... não mereço! -  Mas o anjo insiste em me levar para o céu, lugar dos eleitos. Ele está aqui e olha com compaixão para você e vejo-o tocar no ferimento de sua namorada.
- Você está com alucinações! Deixe de idiotices, marginal! - gritou Homero.
- Tchau, irmão! Perdão! Deus se mostrará pleno a você...é a promessa do anjo que me põem nos braços.
Imediatamente, o adolescente parou de respirar e Lúcia recobrava a pulsação normal do coração. Homero permaneceu alguns instantes pensando nas últimas palavras do garoto: “ Deus se mostrará pleno a você...”. Não queria acreditar que tivesse relação com sua súplica.


aguarde o próximo capitulo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário