sexta-feira, 15 de abril de 2011

MANICÔMIO - V capitulo Asas de Deus

V CAPÍTULO


Um amigo convidou-o para visitar o irmão que estava num manicômio internado. Pela primeira vez entrava num recinto com pessoas assim. Queria ficar na portaria, mas seu amigo insistiu que fosse com ele. Entraram no pátio. Os enfermos mentais andavam de um lado para o outro cada um com suas manias e crises. Araújo, seu amigo, apresentou Homero a seu irmão, Jeremias. Homero fez algumas perguntas e os deixou conversar a sós. Ficou observando aquele lugar tão sem sentido; tão sem razão para se continuar a chamar de raça humana. Lembrou-se da tese filosófica de que o humano se caracteriza essencialmente pela capacidade de pensar. Aqueles seres não tinham mais essa capacidade. Seria misericórdia e compaixão por eles como fazemos aos animais irracionais, ou ainda por respeito por resguardarem a forma humana em seus corpos?
Bem distante, no outro lado do pátio, o anjo cuidava de um enfermo que foi correndo em direção a Homero que se posicionou em forma de defesa. O homem, estatura grande, gordo e barbudo parou em frente dele contemplando-o. Homero seguiu na retaguarda. O homem, então, apontou o dedo para ele e disse:
- Seus olhos contemplam o que sua alma nega. Seu corpo reage ao que seu espírito tem medo. Longe eu lhe vi e como um bom soldado vim atender-lhe, meu capitão.
Homero lançou-lhe um olhar de desprezo, mas continuou a prestar atenção ao sua conversa lunática.
- Tenho um recado lá da torre de comando para o senhor, capitão!
- Ah, é?! E quem é que manda esse recado, subordinado? - Homero entrou no papo do louco.
- Senhor, permissão para falar!? - o homem empolgou-se.
- Toda! - Homero estava se divertindo com aquela situação.
- Senhor, um anjo é quem me mandou trazer este recado!
O rosto de Homero logo mudou de feição. O que antes levava como simples ironia, agora tornou-se um insulto da parte de Deus. Usar um louco para enviar recados é, no mínimo, absurdo. Nunca pensou isso de Deus, um manipulador barato.
- Então, encarregado, o que o anjo disse!
- Ele me disse para você continuar seguindo-o.
- Como ele me pede isso se não me sinto seguindo-o?
- Não sei, senhor. Só me encarrego de dizer o que ouvi.
- Ah, é mesmo. Você não tem razão!
- É verdade, senhor. Por isso, dizem que não sou gente. Mas um dia eu fui gente como o senhor. E se um dia o senhor deixar de ser gente, pode ter certeza que vou acolhe-lo aqui como gente.
- Obrigado.
- O senhor sabia que o anjo que me mandou aqui não faz distinção de nós dois?! Você e eu temos o mesmo valor para ele.
Homero permaneceu em silêncio. Olhava à sua volta. Por um momento, parecia que via anjos ali próximos aos loucos. Anjos revestidos de tanto carinho e cuidado; uma atenção especial voltada aos loucos. Depois, sumiu novamente a visão. Não era fácil compreender o que o anjo por meio daquele homem lhe expressava. Pela primeira vez percebeu que acolhia como realidade as aparições do anjo. Estaria ficando louco?! Ao menos, se se comprovasse sua loucura, já teria acolhimento e um amigo no manicômio, assim pensava com ironia. Foi despertado de suas reflexões pelo grito de Araújo que lhe chamava para irem. Foram saindo e voltou seu olhar para o manicômio e viu novamente os anjos junto dos enfermos mentais.
- Preciso de um cafezinho, pois ando vendo coisas demais! - disse Homero balançando a cabeça.
- Então, passemos em casa primeiro e depois você vai para sua casa.
-Ótimo, pois já estava com saudades do café de D. Das Dores.  
Quando chegou à casa de Araújo, a mãe de Araújo convidou para tomar um cafezinho. Não teve como negar tanta delicadeza. Conversaram sobre assuntos diversos, desde arte à música, passando pela economia e desembocando na política. Depois, D. Das Dores convidou Homero para ver o cachorrinho dela que estava doente. Ainda estava longe do canil e Homero perguntou quem estava lá, mas D. Das Dores disse que ninguém. Homero pensou ter visto alguém de junto ao canil. Acariciou o cachorro, desejou saúde para ele e voltaram. Depois olhou de novo para trás e viu a imagem de um anjo ajoelhado com a mão para dentro do canil. O anjo o olhou com ar misterioso. O cachorro começou a latir forte o que fez D. Das Dores voltar para ver o que estava acontecendo com ele. Aproximou-se e viu que o ferimento e os sintomas da enfermidade tinham abandonado o cachorro. Gritou por Araújo e a noticia correu de que tinha sido o carinho de Homero que salvou o cachorro. 

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