quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

TREM DESCARRILHADO

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O trilho por onde os trens seguem suas direções são retilíneos; mas há também curvas e em alguns pontos possuem túneis. Outras vezes, é alto ou, o que é mais costumeiro, está firme na terra. Há aquele que vai por baixo dela. Entretanto, todas essas características que aparentam arrancar a imagem retilínea do trilho tão somente fortalecem e corroboram que o trilho é nossa história, nossa opção fundamental por onde passam nossos trens. É nossa segurança de que chegaremos aonde ele nos propõe chegar. Cabe a nós deixarmos nosso trem partir de estação em estação rumo à estação final.

O trilho é estável, apesar de sofrer mutações em sua forma. Por isso, a opção fundamental será sempre única. Porém, pode ser que o trem, por muitos motivos, desvie-se do trilho e ande por caminhos estranhos à sua natureza. Então, os vagões vão perdendo sua unidade e harmonia. O trem não se reconhece mais. Desfigurado e perdido em meio a realidades que lhe desafiam.

Ninguém é culpado a priori por ter-se descarrilhado. Somos condicionados por muitos eventos que nos levam a abandonar o trilho. É preciso, mesmo fora do trilho, continuar sonhando com ele. Mesmo na desesperança, esperar um dia trilha-lo novamente. Mas não é o sonho nostálgico do passado. É o sonho-realidade tecido na luta por compreender o desvio feito, compreender-se.

Tem culpa quem podendo sonhar, preferiu a destruição. Caído, não se permitiu levantar por outros trens cargueiros. Desanimado, não cantou com a música da buzina a chamar-lhe de volta. Tem culpa quem próprio decidiu culpar-se como sem retorno, trem fantasma.

Quem aprende a contemplar o desvio e nele se deixa questionar, logo, logo ao trilho voltará. Toda crise pode sim, e deve, ser uma seta para nosso melhor. Quando o trem deixa o caminho seguro do trilho, tem a capacidade de voltar dono de si dos percursos estranhos. E, então, nenhum outro caminho desconhecido ao seu cotidiano afugenta-lo-á de seus sonhos e de suas verdades. Pelo contrário, saberá como andar e aproveitar as andanças sem jamais tombar. Porque a crise já não será a imagem de uma sepultura aberta, mas novas setas para realidades do nosso ser, ainda desconhecidas, contudo, desejadas por nossas almas ansiosas do profundo de nós mesmos.

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