terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ROSEIRA E A MONTANHA



Vi a rosa crescendo bem no alto de uma montanha. Era como se a textura de suas pétalas tocasse a maça de meu rosto. Seu reflexo em meu olhar devia ser causado pelo abraço do sol ou o suspirar do interior da montanha por ver nascer tão bela rosa em sua pele rochosa. Curioso, não menos maravilhado, decidi escalar a montanha. Queria tocar, saborear o deslumbre da beleza nascendo e revelando seu mistério a olhares da superfície. Só poderia contempla-la quem tivesse capacidade de voo ou, como eu, lançar-se, com todos os riscos previstos, a escalar a grande montanha.

Com o olhar fixo na primeira imagem gravada em minhas retinas, pus-me a subir. No início, senti-me enamorado pelas gramíneas, pele macia que cobria a margem da montanha. Um pouco acima, volvi o olhar para trás. Deu-me saudades, não minto, da comodidade da observação passiva. No fundo, vou ser sincero, havia uma fagulha de medo do percurso desconhecido ao lugar onde o encanto de meus olhares decidira habitar. Porém, era apenas distração do que havia me proposto. Continuei a escalada.

Já na metade do caminho senti que em mim algo estranho acontecia. Percebi um peso no meu corpo como se uma força prendesse os pés à montanha e com muita dificuldade conseguia move-los ao passo seguinte. Então, parei por instantes. Os pés formigavam. Tinha alguma coisa movendo-se dentro. Firme, segui. Quanto mais subia senti que raízes nasciam nos pés. Fiquei apavorado e deu vontade de retornar. Abortar.  Entretanto, meus olhares fumegaram e se encheram de paixão pela rosa que me aguardava; paixão essa que eu nunca havia sentido antes. 

Quase no topo da montanha senti cheiro de folha verde em minhas mãos. Fotossíntese acontecendo em mim. Estavam leves e macias, indefesas ante o sopro do vento conduzindo-me como numa valsa. E já no cume da montanha, para minha surpresa e espanto não vi a rosa. De repente, caíram lágrimas, pétalas banhadas pela brisa. A rosa que contemplei, esta mesma que me fez subir ao encontro dela, há muito tempo habitava e crescia formosa em minhas profundidades desconhecidas. O encontro, na verdade, era comigo mesmo.

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