terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

VIVER A POESIA



Viver a poesia não pertence a quem a compõe. Nem é somente para o paladar exclusivo dos "aficionados" por este gênero. Nutrir-se de poesia é próprio da fome humana. A todo instante não só fazemos poesia como ela nos possui, sentindo-nos possuído por ela. Há cumplicidade. O cotidiano é grávido de poesia em cada suspiro de espanto diante do natural que se agiganta na alma. A folha que cai não é mais só um movimento corriqueiro que o vento ou a madurez decide desfazer-se dela. Nem mesmo nossa solidão parece ser o vazio que traz angústia, mas de modo novo me traz a mim mesmo. O natural se agiganta na alma e transforma o olhar, as vísceras, as entranhas de nosso de nosso ser.

Viver a poesia no pão com manteiga, no café quente incensando o amanhecer, no bocejo do corpo, nos passos dorminhocos, nos pássaros esvoaçantes e seus ritmos peregrinos em nossos poros melódicos e, acima de tudo, no grito do espírito pelo absurdo da existência que se põe diante de mim.

Viver a poesia é crer no além das entranhas da pele ou mesmo no desfragmentar-se do corpo. Isso é loucura, concordo, mas viver sob os auspícios dessa crença é uma loucura tão real, ousada, bacana e excitante, que outro não conseguiria arranjar outro signo lingüístico para definí-la senão, viver a poesia.

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