sexta-feira, 27 de maio de 2011

PÉS A CAMINHO...





Às vezes, eu penso que sei para onde caminho; outras, nem sei se sei. Tem algo que me ajuda e, ao mesmo tempo, me consola nessa incertidumbre: amo o caminho que meus passos pisam. Ante as incertezas e dúvidas, o coração precisa, no mínimo, amar seu pulsar. O pulso são os passos do corpo; a vida que acontece agora são os passos cotidianos do ser.
           Caminho na percepção do sentido de meu existir. Tem horas que imagino saber exatamente para que sirvo; glorio-me e me satisfaço com a bem-aventurança de existir com uma razão. Precisamos de uma causa, nem que seja a de manter-se vivo, existindo. Entretanto, é sempre possível ir além dessa causa primordial. No caminhar encontro razões para crer no que creio. Busque cada um o sabor de seus passos. Acima de tudo, cada um se ponha a vencer o fel das ervas amargas de outrora com as pequenas degustações de frutas vermelhas e saborosas do caminhar.
           No meu caminhar encontro pedras, flores, folhas verdes, secas, maduras... Vou colhendo, apalpando, discernindo, colocando na bolsa de minhas vivências. O sol, a lua, as estrelas também estão presentes em minhas pegadas. Sento na grama à margem do caminho para descansar de tempos em tempos. Embaixo dos pés as marcas da estrada ficada para trás: As feridas causadas pelas pedras, a aquarela das folhas e flores... O coração aperta quando olho para frente, mas os pés me dizem uníssonos: caminhe!
           Novamente, sinto-me sem saber o motivo de meus passos. No entanto, caminho, caminho, caminho... Peregrino diante desses passos aparentemente inertes. Não ter medo de pôr um pé após outro. Há gosto na estrada que nos acolhe. Essa verdade eu tento me impor. Mais que isso: Essa verdade me faz caminhar. Pode ser que algo me aconteça ao longo das pegadas, mas a isso me apego como minha bússola.
           Há duas semanas estou parado. Não é descanso. É um fato. Um espinho enorme me fez parar. É assim mesmo quando permitimos que um espinho torne-se apenas espinho com sua capacidade de ferir e com sua pretensão de nos fazer desistir do caminho. Mas já me decidi levantar. Pôr os pés em marcha, pois a vida é como olhamos as coisas. Um espinho pode ser apenas espinho, mas pode ser um broto de rosa se assim contemplamos e cuidamos dele. 

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