segunda-feira, 9 de maio de 2011

JANELA DA CONSCIÊNCIA




Fui caminhar bem cedo pela rua, com a esperança de encontrar na esquina os primeiros raios do sol. Abriu-se a janela de minha consciência. Desci os paralepípedos, pensativo. Que sentido teria um percurso deste tipo? O sol sempre estava lá! Dessa verdade não poderiam duvidar meus sentidos. Bom, eram meus questionamentos. Porém, havia uma sede de querer saber mais; anseio de simplesmente caminhar rumo a algo sem esperar, mas esperando. Sentir os pés no chão. As pisadas. Corpo despertando. Pulsar trêmulo nos primeiros latejos do dia.

Ao chegar à esquina espantei-me não com os raios sonhados, mas com uma claridade queimando meus olhares e acendendo as chamas de meus poros que eu nunca tinha visto ou sentido antes. Sempre passava por ali e jamais observei aquela luz radiante. Parei para contemplar o clarão que visitava meus olhos e invadia o espírito quase desperto. Descobri que aquela luz vinha de uma brecha de um pequeno casebre. Pus-me a caminho do casebre e adentrei seu interior. Era um cubículo meio sujo, mas muito aconchegante. Vi uma cadeira de balanço no canto esquerdo da casa. Dirigi-me a ela. Recostei-me. A vista do assento dava acesso a uma minúscula janela que ficava no alto. Então, ficou claro para mim do porquê da cadeira naquela posição. A luz entrava pela janela e escapava, espreitando-se, pela fresta que me trouxe até aqui. 

Não era só isso. Ainda havia algo de interessante no interior do casebre. Uma escada estava encostada na parede próxima da janela. Deduzi que era usada para espiar. Imediatamente, recoloquei-a mais perto, de tal forma que pudesse observar por ela. Subi inquieto pelo inesperado. Nesse momento, em que o olhar alcançou o beiral, os raios solares vinham ganhando espaço pelo capinzal, tornando-o ainda mais belo e reluzente. Minha vista, espantada, mas ligeiramente vislumbrada, deixou-se estar na escada tentando captar, teimosa, o horizonte de tal acontecimento.

Meu espírito, todo desperto, encantado, celebrou a curiosidade de minha alma, que antes nada queria, senão encontrar na esquina alguns raios solares. Terminou por encontrar algo maior que eles, mas que deles foram originados, muito além do que queriam meus instintos. Deparou-se com uma fagulha de conhecimento. E o conhecimento fez-me almejar sempre ir além do que pedem os passos. Ultrapassar as esquinas, brechas e pequenas janelas.

Aquela minúscula janela lançou-me para além do capinzal. Por sua vez, o capinzal lançou-me para além de mim mesmo. Sempre que para lá me direciono, busco ir além, teimoso, transcender o que meus olhos pensam enxergar. Fazer de minha curiosidade, meu querer mais, meus passos, realidade que me desperte pequenos raios solares capazes de sempre surpreender, revelando-me fagulhas de conhecimento, pedaços de mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário