terça-feira, 12 de abril de 2011

BRAÇOS DO ANJO - III capitulo Asas de Deus


III CAPITULO


O telefone tocou. Era a irmã de Lúcia. Foi correndo para o hospital. Lúcia estava mal. Tinha tido duas convulsões seguidas. Homero sentou ao seu lado. Ela sorriu numa mistura de carinho e saudade. Fez um esforço para dirigir algumas palavras a Homero.  
- Homero, nada é por acaso. Tudo tem um propósito. Não ter morrido dentro da ambulância foi para que ainda servisse de sinal para alguém. Olhe para mim. - Homero a contemplou – estou cheia de dores, mas por dentro só há felicidade. Veja, bem pertinho de você, o anjo veio me buscar.
- Não! Não deixe que ele a ponha nos braços. Aconteceu da mesma  forma com o garoto e com o idoso. Diga para que se vá! – falou Homero, desesperado.
- É preciso que me leve. Veja, ele me estende a mão. Homero, meu amor, nascem flores onde dormem os corpos. Imprima olhos de primavera à visão desértica! Insisto, brotam flores onde dormem os corpos! Tchau, amor de minha vida.  Deus se mostrará pleno a você...é a promessa  do anjo que me põem nos braços. - imediatamente declinou a cabeça.
- Nãooooooo!!! Traga-a de volta! Traga Lúcia de volta seu demônio vestido de anjo, traga de volta, traga de volta, traga.... - Homero perdeu-se em sua dor e esmoreceu caído em lágrimas sobre o corpo de Lúcia. No mesmo instante entraram os parentes de Lúcia. Perdera Lúcia para sempre. A mãe de Lúcia estava completamente desconsolada. Todos estavam com o coração trespassado pela dor. Lúcia tinha apenas 19 anos. As enfermeiras levaram todos para outra sala. Foi preciso sedar a mãe de Lúcia tamanha desolação. Um adolescente que também estava com a mãe internada no mesmo hospital aproximou-se de Homero que tinha preferido ficar sozinho.
- Conversei muito com a mulher que morreu. Deve ser sua mulher, né? Minha mãe está na mesma sala em que ela estava. Ela ajudou minha mãe a crer na recuperação. Minha mãe disse que à noite a mulher emprestava o anjo dela que ela chamava de Rafael para ficar no berço de sua cama. Mamãe afirmava que o anjo, antes de retornar para a cama de da mulher que morreu, tocava em suas dores todas as noites. Agora está melhor, graças a Deus. O médico disse que foi milagre. O senhor acredita que de verdade mamãe via anjos?
- Não sei garoto. - disse Homero contemplando o menino que tinha as feições do adolescente que o roubou.
- Ontem sonhei que um anjo queria levá-la com ele. Aí eu a puxava pela mão, mas ela pedia que eu deixasse ir e que só assim a promessa do anjo se cumpriria: Deus se mostrará pleno a você. Mas acordei e disse alto que eu queria ver minha mãe e não ver a Deus. Será que pequei?
- Não, garoto, você não pecou. Só está protegendo o que você ama! - abraçou-o longamente sentindo compaixão do garoto.
O que ele não podia entender era como as pessoas partilhavam a mesma coisa quando, na ve4rdade, eram desconhecidas umas das outras e, em especial, desconhecidas dele. Deus, com certeza, estava querendo mostrar-lhe um caminho. Tudo isto tinha um propósito. Sabia que não era culpa de Deus os acontecimentos, mas que o Criador estava aproveitando para guiá-lo à resposta que pediu na prece.  Tentava juntar os fatos. O roubo, a morte do garoto, a morte da namorada, a morte do idoso e as palavras do menino. O bendito anjo ali no seu caminho. A morte queria dizer algo de Deus! Será?! Mergulhava nos acontecimentos. Foi para casa e chorou a morte de Lúcia. Logo cedo seria o velório e logo depois o enterro. Ligou o computador ver as fotos que tinham juntos e remexeu nas cartas que Lúcia escreveu, inclusive o bilhete em que ela marcou um encontro lá na mesma praça onde tudo aconteceu. Uma pequena brisa entrava no quarto pela janela entreaberta. Deixou-se cair na cama, cansado e desolado. Sentado no alpendre da janela estava o anjo que o acompanhava desde a noite da prece. Durante a noite, Homero teve pesadelos. Gritava para as pessoas no hospital que não deixassem que o anjo os colocassem nos braços. Acordou espantado. Levantou-se e foi à cozinha. Preparou uma xícara de café e retornou para o quarto. Olhava a lua que foi testemunha de sua prece. Tomava seu café. O anjo continuava sentado ao lado.  O Arcanjo Miguel tinha vontade de tocar seu coração para acalmar sua dor, mas ainda não podia. Homero precisava fazer um processo, pois, afinal, para o anjo estava ali.

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