quarta-feira, 2 de março de 2011

NÃO DIGA NÃO A SI MESMO





Quando eu penso: “ Estou quase caindo!”
Vosso amor me sustenta, Senhor!
Quando o meu coração se angustia,
Consolais e alegrais minha alma.
Sl 93


Mangas verdes que não amadurecem depois de certo tempo devem ser derrubadas a pedradas, ainda que não demorassem secar ou mesmo cair por si só. Há muita gente que repete essa sentença para si mesmo quando se vêem em uma estrada, aparentemente, sem saída. Sentem-se imersos nos ferrões de espinhos violentos e soterrados pelo lamaçal. Para visualizar melhor essa fábula das mangas verdes, os espinhos e o lamaçal são seus algozes, as pedras. A falta de esperança diante de sua própria história é o tempo que lhe resta para cair.
 
Não diga não a si mesmo diante do apelo desse desejo que queima as entranhas por se escutar, dizer-se, revelar-se, compreender-se. Talvez nem tenha noção dos sentidos que favorecem a concretização desse apelo, porém, isso não é impeditivo para seguir com ânimo e coragem. O dizer sim a si mesmo não é uma simples operação matemática ou oposição que está do outro lado do dizer não. É um processo que precisa ser abraçado, assumido. Afirmar a autonomia só é possível na aceitação das grades que dizem nos encarcerar. É nesse movimento que elas se rompem, perdem sua força sobre cada um, devolvendo o que se tem de mais sagrado: a Esperança. Entretanto, pode-se refutar ou tentar rejeitar a angústia que assola a alma, negar sua estrutura destruidora, mas isso não trará a paz que tanto anseia o espírito, ao contrário, só aumentará os açoites.

Espinhos e lamaçais sempre querem plantar no coração a convicção de que nascem nas portas, nas janelas e no alicerce de nossas habitações e que, portanto, não há como vencê-los. Tão pouco é questão de acomodar-se a eles, mas eles obrigam a acolher seu senhorio sobre as vidas. Quantas e quantas vezes, submissos, as pessoas se curvam a seus caprichos e vontades. Se chegam a esse nível, certamente é porque eles tem domínio pleno sobre o ânimo. Vigiam e administram os desejos de libertação, inerentes à vocação da alma.  Quer dizer, então, que não resta outra alternativa senão revestir-se de mangas verdes?     

Caminhando na direção do questionamento acima, para escapar da certeza que paira na fábula das mangas verdes, precisa-se acolher – ao menos como possibilidade – a existência de outro senhorio que Reina nas profundezas do coração bem antes desta coroa que agora governa. O senhorio das Flores e da Água Cristalina que vivem nos jardins da alma. Ali reina um Senhor que aguarda a voz da coragem e do ânimo. Senhor que espera o som dos passos calejados, cansados, mas que nunca se deixaram convencer por reinados ditatoriais. Necessita-se reconhecer o senhorio da força vital que grita nas cavidades mais profundas da alma.

Diga sim a si mesmo! Negue o senhorio dos Espinhos e do Lamaçal. Não deixe que assim seja, pois, isso é ilusão, mentira grotesca que vai contra o que realmente cada um é e para qual foi criado. Pois eles não têm outra intenção senão esconder as sementes que foram plantadas ao redor das casas, espalhadas no alicerce das moradias, misturadas à massa que formam as paredes azuladas do corpo, do espírito. Eles almejam que se esqueça o broto que espera ansioso a confiança, a vontade e o querer profundo por seu desabrochar e, acima de tudo, esses Espinhos e Lamaçais anseiam que se esqueça de sonhar com os jardins que acolhem as roseiras e que, por sua vez, aguardam até a madrugada o desabrochar dos corações.

Uma última palavra: dê atenção à dor dos espinhos e à sensação de sufoco dos lamaçais, sinta-se – não tem como evitar mesmo – mas perscrute, pois ali encontrará as chaves que abrem as portas gigantescas e os cômodos do Castelo do verdadeiro Senhor. E para concluir, sobre as mangas verdes, bem, só um Reino Ditador seria capaz de mutilá-las, sem misericórdia. Não é o caso do senhorio das Flores e da Água Cristalina.   

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