quarta-feira, 28 de setembro de 2011

DAS METRÓPOLES E SUAS ESQUINAS I






Não me pediu nada o pobre rapaz que só mendigava algumas palavras. A mania de crer que sempre precisamos de uma estratégia de aproximação me fez comprar um pedaço de pão,  especificamente, um hambúrguer para tentar garantir sua atenção. Não que tenha dado certo, mas ele aceitou consciente de minha idiotice.
-Tudo beleza?!
-Tá bacana.
-Eu vi você aí.
-Eu também te vi.
-Tá precisando de algo?
-Pelo que parece o senhor já veio com a sua resposta.
-Não sabia como me aproximar.
-E por acaso sou estranho ou perigoso a essa ponto?
-Há condicionamentos culturais que me fazem agir assim!
-Então, não sou eu quem precisa de atenção.
Leve suas palavras de compaixão; fico com o hambúrguer, me serve mais.
- Beleza. Tenho vergonha da raça humana.
- ótimo. Eu tenho vergonha dos olhares humanos.
- Temos algo comum.
- Não. Se assim fosse, ao menos eu teria mais dignidade.
- Tá bem. Lute tentando não ser o humano medíocre que somos.
- Tá bem. Lute o senhor tentando ser o humano que sonho todas as noites.
Pelo jeito eu e ele mendigávamos um pouco de humanidade. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário